- 0
Descrição Saiba mais informações
O último livro de Paulo Leminski, Winterverno, é invernal como o fim de um ciclo. "Winter", do inglês, e "inverno", do português, se unem, encontrando no radical grego inter — que significa "entre", "com" — um espaço de travessia, de confluência. Este livro é ambos: estação e encontro. Com traços delicados de sumiê e a própria caligrafia de Leminski, Winterverno é uma obra feita a quatro mãos. O amigo João se lança como quem entra num combate de judô, onde a força está no gesto contido: os poemas inspiram as imagens, e as imagens sopram fôlego aos poemas, numa dança silenciosa. Cada quadro nasce como extensão dos haicais — formas mínimas, concentradas
como o frio. Assim, palavra e imagem se entrelaçam, construindo um livro que é, ao mesmo tempo, paisagem e despedida. Uma obra que percorreu, com a exposição Múltiplo Leminski, duas dezenas de cidades no Brasil e no exterior — e que agora volta a circular em livro, exatamente como foi concebida.
Estrela Ruiz Leminski.
Aos poucos vamos podendo pisar essas pedras que Leminski nos deixou, e que voltam sempre a nos confirmar a grandeza e a profundidade de seu mergulho poético. Depois do corpo de poemas inéditos que veio à luz com La Vie en Close e do deslumbrante Metaformose, recém-lançado, podemos agora curtir esse Winterverno, fruto de um diálogo intersemiótico com João Suplicy. Entre as inúmeras formas de associação gráfica entre imagem e verbo em nossa época – da ilustração à legenda, do caligrama ao logotipo, da pintura escrita à poesia visual, do cartaz à HQ – Winterverno tem uma face singular. A síntese verbal de Leminski e o traçado conciso de João se afinaram com muita naturalidade, numa conversa que nos aproxima da condição do hai-kai, em sua origem ideogramática (dois invernos diferentes formando o mesmo). Aqui os códigos verbal e visual se alimentam mutuamente, ora se complementando, ora se tensionando; ora se traduzindo, ora acrescentando um ao outro novas significações. O resultado é de uma sintonia surpreendente, que muitas vezes incorpora e exibe dados sobre a situação do encontro em que foram feitos – com margem para o salto, o voo, o insight – e toda sorte de coincidências. A simplicidade e a liberdade com que essa relação se faz, tão intimamente, faz lembrar, por vezes, o Nascimento Vida Paixão e Morte, de Pagu, o Romance da Época Anarquista, diário de Oswald e Pagu, ou o Perfeito Cozinheiro de Almas deste Mundo, diário da garçonnière de Oswald – obras/não-obras onde o verbal e o visual se misturam, como a própria criação se mistura à vida. Além de momentos altamente concentrados da poesia de Leminski; além da riqueza de soluções gráficas exploradas por João em seus desenhos; além da delicada interação dos dois códigos; o mais belo desse livro me parece a forma omo ele incorpora em si o processo de sua feitura – exposto no raio x dos suportes precários onde inicialmente o diálogo foi se fazendo (e que compõem sua segunda parte). Rabiscados em folhetos publicitários, guardanapos de bar, pedaços de embalagens, folhas de caderno, a matéria-prima que houvesse na hora; os registros nos mostram a urgência da criação contaminada de vida, contaminando a vida, na captação de seus instantâneos. Um livro que foi se fazendo quase sem querer, e que foi se fazendo querer até tornar- se um projeto comum de Paulo e João; da expressão espontânea de uma afinidade à descoberta de uma linguagem.
Arnaldo Antunes
Páginas | 80 |
---|---|
Data de publicação | 04/07/2025 |
Formato | 23 x 21 x 4 |
Largura | 21 |
Comprimento | 23 |
Tipo | pbook |
Número da edição | 2 |
Classificações BISAC | POE025000 |
Classificações THEMA | DCRB |
Idioma | por |
Peso | 0.05 |
Lombada | 4 |